26 de fev. de 2011

CHEFE DE POLÍCIA DO RIO AVISOU SOBRE ESCUTAS

As transcrições dos diálogos entre o delegado Allan Turnowski e o inspetor Christiano Fernandes, em cinco interceptações telefônicas, mostram que o então chefe da Polícia Civil avisou ao inspetor que a Polícia Federal (PF) monitorava por telefone os policiais civis que ocuparam o Complexo do Alemão, no Rio, em novembro do ano passado. “Ao invés de adotar medidas de inteligência policial para saber se o inspetor cometia a infração, ele avisou sobre a interceptação telefônica”, explicou o delegado titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRF) da PF, Allan Dias, que comandou a Operação Guilhotina, deflagrada no último dia 11.

Policiais federais apreenderam documentos
para a investigação sobre suspeitas de
corrupção na polícia civil do Rio de Janeiro
Na primeira interceptação, Turnowski age como se alguém estivesse próximo e repetia as informações que o inspetor lhe passava por telefone. Ele pergunta quem a equipe de Fernandes havia prendido no Complexo do Alemão. Após receber a resposta de que o preso era um traficante conhecido como “Piloto”, o chefe da Polícia Civil orienta o inspetor. “Vê isto direito. O Harold (Spínola, diretor da Polinter) já passou este Piloto e já está nos grampos que tem alguém lá em cima (preso) com o pessoal da 22ª”, disse Turnowski.

O segundo telefonema é mais explícito. “O secretário ligou e falou que caiu na escuta da Federal a prisão deste cara pelo pessoal da 22ª”, avisa o então chefe da Polícia Civil. Em seguida, após receber nova confirmação de que o traficante está preso, Turnowski orienta mais uma vez. “Fica esperto aí que a Federal tá dizendo que caiu na escuta que nego já vendeu uma cabeça (extorquiu um criminoso em troca da liberdade). Ainda bem que eu já tinha sido avisado e falei para o secretário. Senão, já estavam queimando vocês.” Ele alerta que Fernandes “não pode deixar brecha”, pois os policiais civis “eram alvo”.

Nas demais gravações, o poder do inspetor impressiona. Em uma delas, Turnowski liga e pede que Fernandes indique uma favela da cidade para uma megaoperação policial no dia seguinte. Outra questão que chamou a atenção dos federais foi o fato de Turnowski ignorar a hierarquia e ligar diretamente para o inspetor, ao invés de acionar o delegado responsável. O ex-chefe da Polícia Civil foi indiciado na semana passada por violação funcional. Nesta sexta-feira (25), Dias concluiu o último dos seis inquéritos da Operação Guilhotina e entregou ao Ministério Público do Rio (MP-RJ). Ele indiciou a delegada Márcia Becker por prevaricação por ter avisado a Fernandes que ele era procurado.

Deflagrada no dia 11 de fevereiro, a Operação Guilhotina resultou na prisão de 10 policiais civis, 22 policiais militares e de 11 pessoas investigadas. Entre os presos está o ex-subchefe da Polícia Civil, Carlos Oliveira, que se entregou à PF no dia da operação. Ele é acusado de comandar o esquema chamado de “espólio de guerra”, que consiste em desviar armas apreendidas em operações policiais contra a facção Comando Vermelho (CV) e revender aos traficantes da quadrilha Amigos dos Amigos (ADA).

Fonte: Tribuna do Norte

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